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Cadeia Alimentar Sexual

Pinturas de Emerico Imre Toth

Na jukebox toca algum jazz antigo em que a letra é alguma ode à mulher. E ela está lá na frente, dançando, em pé naquele salto alto, dentro daquele vestido preto, com seus dedos seguindo a melodia da música e um cigarro entre eles. Posso ver seus olhos virados, suas pernas trôpegas e sei que ela está bêbada. 
Bêbada e vulnerável.
E mesmo assim mais poderosa que qualquer homem dentro do meu bar hoje. 
Sim, porque aqueles cabelos vermelhos tingidos chamam a atenção de qualquer um, demonstrando o calor que aquela mulher emana; aqueles seios fartos dentro daquele decote são as montanhas dos sonhos de qualquer escalador. O Everest feminino. Suas pernas bem torneadas são o baú que esconde o maior tesouro da mulher; a flor cálida entre elas. Flor que todos desejam para si.
Posso ver os homens bebendo e fumando, olhando para a dança simples dela e a admirando. Bêbada, ela é a melhor dançarina do mundo, ou pelo menos é o que sua postura demonstra; ela é cheia de si, orgulhosa de si mesma, poderosa de um jeito que toda mulher é.
E todos os homens a admiram, decidindo entre si — de uma forma que apenas o sexo masculino sabe fazer — quem irá até lá desbravá-la. Quem irá consumi-la naquela cadeia alimentar sexual.
Ela está lá sozinha, vulnerável, e o primeiro se levanta. Ele quer conquistá-la, tê-la em mãos, sentir o cheiro da flor, comer a mais doce das frutas. 
Mas ele não sabe, assim como ninguém nessa noite no meu bar, que ele não é o predador dessa cadeia alimentar. Ele é a vítima, servindo como a caça daquela espetacular mulher. 
Assim como sempre é. Sempre estamos abaixo nessa cadeia alimentar sexual quando estamos diante de alguém mais poderoso que nós. E mesmo vulnerável, vamos até lá. Será essa pessoa que irá usar-nos como se não fôssemos nada; o veado servindo de alimento para o leão. 
E quando finalmente nos damos conta de que estamos em um nível trófico inferior, já é tarde demais. Já fomos consumidos até a alma e nada mais nos resta.

É inevitável.

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