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Considerações Empáticas


Eu tirei a noite para observar.
Sentado no chão do Beco, de pernas cruzadas, eu olhava os passantes e tentava descobrir os segredos profundos que me foram usurpados pelo Universo antes que eu pudesse sabê-los.
Talvez eles soubessem. Talvez pudessem me contar o que significava a trilha da minha vida.
Descobri duas coisas durante esse tempo.
A primeira é que, à medida que as pessoas adentravam o Beco, tornavam-se todas iguais. Suas particularidades fundiam-se às paredes desgastadas, seu andar característico passava a ter um som idêntico a todos os outros quando em contato com o piso de cimento batido.
Era difícil, naquele lugar, observá-los como indivíduos e não como partes da mesma coisa.
Não importa se você é um mendigo, um viciado, um dono de bar, um suicida ou um filósofo. Sob a luz decrépita do Beco Bêbado, somos todos meros seres humanos.
A segunda coisa é um raciocínio derivado da primeira.
Se, ali, todos éramos o mesmo, eu também era parte daquela massa indefinida de cópias. Os que passavam poderiam ter sido como eu, e eu poderia tê-los sido, se tivesse nascido em um lugar diferente, se tivesse sido criado de uma outra forma ou até mesmo se estivesse em um outro momento da minha vida.
Por conseguinte, olhar para cada um deles era como olhar para dentro de mim mesmo.
Analisá-los, entender como funcionavam e a que aspiravam, ajudaria-me a compreender meus próprios desejos. Afinal, se somos todos partes de um grande quebra-cabeças, é preciso entender as peças que o formam para se conectar plenamente.
Caberia a mim buscar fora o que me faltava internamente, como quando alguém observa e e estuda as engrenagens de uma máquina para, futuramente, poder construir a sua própria.
Eu deveria sempre pensar na iluminação fraca daquele beco decadente, em como tudo se misturava e se fundia ali.
Talvez, assim, eu conseguisse trilhar melhor minha vida nos momentos em que a luz ofusca os olhos.

- O Filósofo Frustrado

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