O de Sempre
Eu ando até o bar e poderia ir de olhos fechados sem correr o risco de me perder, compro uma garrafa cheia e quente pelo calor de qualquer coisa com alto teor alcoólico. Pode ser que o dono do bar já me conheça de vista há um tempo e eu não precise ficar explicando o que quero, acontece de maneira tão natural que não sei bem como funciona, saio dali o mais rápido possível, pois não sou como eles, sou levemente pior, um pouco mais afundada na lama, mais caída no precipício. Caminho sem previsão de chegada ou ponto específico para alcançar, com a garrafa agarrada nos meus braços, tirando-a do conforto só para alguns goles. Por alguns momentos eu gostaria de ter uma casa para ir, alguém para visitar, para chegar e dizer: eu trouxe para nós. Mas eu sequer lembro claramente se já tive algo assim. No fim, alcanço o canto mais escuro de sempre. E essa é uma expressão frequente para mim. Eu sou um acúmulo de hábitos, somente faço as coisas de sempre. Eu sento onde ninguém pode ver — ou talvez vejam, mas ignorem, e mato meu último gasto válido do dia. Com o dinheiro mais sujo que eu poderia conseguir, comprado com a cara mais lavada que posso manter e nada degustado. São só longos goles e olhares para o nada, é apenas uma canção de ninar para os meus pensamentos que não silenciam até receberem a pequena dose de setecentos e cinquenta eme eles de bebida alcoólica.
Entre algum momento de paz e um susto nessa noite, vejo alguém se aproximar.
— Impressionante como eu sempre sei te encontrar.
— Impressionante como eu sempre estou aqui e você sabe.
— Você não muda mesmo.
— Se é um incômodo, eu não me preocupo em deixar você ir embora.
— Mais uma vez — lamenta.
— Sabe, você pede indiretamente e eu penso “vou mandar esse pobre coitado embora de vez, e ele vai sem se sentir covarde”.
— Mas eu estou aqui, não estou?
— Acabou a bebida.
Ele ri. Balbucia algo como “eu não estou aqui pela bebida”, mas se está por mim, só precisa mudar uma letra e acrescentar um acento circunflexo. Bêbada. Um adjetivo de fato reconhecido. Ele diz que me vê por aí e às vezes acha que estou menos perdida que ele, diz que me vê fazendo as mesmas coisas e ainda vivendo, enquanto ele tenta sempre mudar e é como se estivesse enfiando a corda no pescoço. Continua o discurso suicida e quem quer morrer sou eu. Esse é um dos motivos pelo qual o deixei para trás certa vez e disse para não me procurar. Na verdade, esse é um dos motivos pelo qual deixei o mundo todo para trás. As pessoas estão insatisfeitas a todo instante e acham que todo semelhante insatisfeito pode sentar e ouvi-las. Eu não quero ouvir ninguém.
Eu levanto meio torta, meio cambaleando, talvez eu tenha tropeçado. Jogo a garrafa na direção dele, vejo-o se afastar rapidamente e dizer que sou louca. Eu dou risada dos cacos espalhados. Ele repete mais umas quatro vezes a última afirmação. A afirmação de sempre. Eu gostaria de ter acertado sua boca, mas só neste momento, pois ele tem uma boca bem contornada que não deveria ser desperdiçada, e eu tenho que superar isso de gostar tanto dessa aparência. Desacostumar esses olhos.
Eu começo a me afastar, mas ele se aproxima novamente e diz que sente tanto, tanto, tanto minha falta. E eu me afasto mais por causa das repetições exageradas, eu odeio tanto, tanto, tanto quem precisa de tantas, tantas, tantas palavras para dizer algo. Então continuo caminhando, talvez eu tenha gritado algo ofensivo sem perceber, ou tenha feito algum discurso sarcástico, às vezes perco a sintonia do que faço e penso que faço, e volto a andar para a direção de sempre. A direção do bar.
Mas sei que em algum momento daquela semana, vou repentinamente lembrar o caminho da casa daquele que me chama de louca e vou bater na porta, entrar, esperar ele me expulsar outra vez. Vou encontrar a rua dele como quem encontra mais um cigarro no maço e sem pensar o acende, apenas pelo hábito, apenas pelo vício.