Um Resumo do Amor
Sou uma causa perdida e esperava o amor.
Sabe, da música que diz: por amor às
causas perdidas. Os dragões que são moinhos de vento, os dramas que são
parte do meu caráter otário. Tudo se encaixa. Sou uma causa perdida que ouve um
bom som a vida toda, desde quando eu era uma coisa minúscula na barriga da
minha mãe, ela ficava perto de onde tocava rock
nacional. Agora eu, por mim mesma, fico perto de onde tocam essas músicas boas.
Fico também onde tem cerveja gelada. Fico também onde vai dar problema. E
costumava ficar também onde tivesse alguém que me desse esperança de amor ao
que sou, sabe, a causa perdida. E por ser causa perdida, ninguém chegou até o
fim comigo.
Agora eu não tenho fé nenhuma, crença
nenhuma, esperança nenhuma – talvez um pouco desse último item, mas é do meu
jeito próprio de esperar. Eu estou sempre parada em um bar, com um copo ou uma long neck na mão, olhando tudo ao redor,
vendo as pessoas casadas, namorando, solteiras, vendo todo mundo e reprisando
na mente alguns episódios com coadjuvantes que me disseram coisas como: você
vai encontrar alguém que te ame, só tem que parar de procurar, ele vem. Eu não
procuro, não espero, não acredito que venha, eu só fico aqui com palavras de
outros na minha mente e rebatendo coisas como: cala a porra da sua boca. Eu
tenho imensas discussões na mente, às vezes boas frases escapam em voz alta.
Não foi sempre assim, porém. Eu já tive
duas curtas histórias de amor. Uma certamente foi mal sucedida, foi a primeira.
Toda primeira história de amor é mal sucedida – a não ser que você seja uma
puta pessoa sortuda. A segunda, bom, apenas foi. Apenas virou uma história,
certo? Eu poderia deixa-las morrerem comigo e com quem viu de perto ou eternizá-las no que faço: beber. O que eu decidi? O pior caminho, é claro, eternizá-las. Eu
fico aqui escorada, bebendo, sofrendo, remoendo, relembrando, sofrendo outra
vez. É um hábito que nunca acaba, que vai me seguir até o fim dos dias. Enquanto eu bebo, recupero o amor antes que possa deixá-lo ir, tornou-se então, algo falsificadamente intrínseco a mim. Não o espero, vivo com o pior que restou.