Arte e Morte
Morreu um cara aqui no bar esses dias.
Ele não foi assassinado nem nada, entenda;
ele só morreu. Eu simplesmente o vi
indo até o banheiro e não o vi saindo. Imaginei que ele pudesse estar se
drogando lá. Eu odeio quando as pessoas usam cocaína ou heroína em meu
banheiro. Mas quando entrei lá, eu o vi morto, afogado no próprio vômito.
Com o tempo eu descobri quem ele era. Um
poeta qualquer. Um artista, e dos
bons. Seus textos são de uma impressionante sobriedade, um humor ácido e de
beleza artística maravilhosa.
Mas de que adianta se ele está morto? E
seus belos textos também.
Estarão vivos sim em minha memória e no de
seus poucos leitores. Mas quanto tempo demorará para ser esquecido por mim,
pelos outros e no fim de tudo, para todo o sempre?
Acredito que o objetivo do ser humano em
vida é a arte. A arte de viver, de amar, de odiar. De sentir, no geral. Colocar
em palavras, em imagens, em sons. E dividir com outro alguém tudo isso. Mas e
quando sua arte é morta, sem mais nem menos?
Quando sua vida chega ao fim, é como se
seu mais belo poema fosse rasgado na sua frente.
Esse poeta morreu antes de fazer sucesso.
Antes do mundo conhecer sua arte. Ele viveu com um objetivo, mas morreu sem
concluí-lo. Toda a sua existência foi jogada no lixo quando — seja lá o que
tenha acontecido para isso — ele morreu. E agora só lhe resta o esquecimento.
Toda a sua sobriedade, humor ácido e
beleza artística morreram com ele. Isso faz com que sua vida não tenha valido à
pena.
Assim como a da maioria de nós. Inclusive
a minha. Inclusive a sua.