Cemitério de Esperanças
Esses dias me perguntaram aqui no bar onde
eu queria chegar. Sabe, um ponto final para todas as coisas. A pessoa me
indagou se eu queria mesmo um bar, desde o começo. Ela duvidou disso. Eu ri,
mudei de assunto, ofereci mais uma bebida.
Preferi não responder porque ela estava
certa. Como eu cheguei aqui, afinal?
Penso que cheguei aqui através de
oportunidades. Oportunidades que nunca existiram. Como se vivesse em um
programa de auditório com inúmeras portas, mas só uma com o prêmio. E que
abrisse todas e revelasse apenas uma parede do outro lado. No fim saía do
programa, mãos abanando.
Minha vida toda passou e minhas mãos ainda
estão vazias. Não há prêmios depois de um tempo.
Enquanto todos conseguiam seus empregos,
suas namoradas e famílias, eu ficava para trás. Corria contra a multidão,
preferindo alcançar algum lugar, mesmo sem saber qual é. Mas o tempo passa e as
esperanças morrem. Elas sempre morrem. Qual o objetivo de querer o emprego dos
sonhos? De querer família? Felicidade? Você nunca a encontrará. O ser humano
nunca está satisfeito e a felicidade não existe.
Qual
o sentido da vida? Viva, cresça, se reproduza e morra. Nada além disso, e tudo
o que há no meio do caminho é apenas futilidade. Então para quê lutar por
alguma coisa? Tentei ir de encontro a tudo isso, procurando um motivo para
viver menos animalesco, e mesmo assim não consegui. Não consegui porque não há.
Então assim o Cão Andaluz nasceu. Um bar
para aquelas pessoas que perdem suas esperanças. Que a deixam morrer, mas
tentam salvá-las através da bebida. Como se cada gota de uísque ou cerveja ou
conhaque pudesse salvá-la. Mas elas se afogam, as esperanças e as pessoas.
Assim como o Cão Andaluz, o próprio filme,
a vida faz pouco sentido. Ela é feita de centenas de imagens marcantes e
aleatórias, mas que talvez tenha um sentido oculto por trás.
Mas será que há mesmo?
Encontrei a pessoa que me questionou sobre
onde eu queria chegar. Ela me perguntou se eu já tinha resposta. Eu lhe paguei
uma dose de qualquer bebida. E respondi, enquanto secava um copo com um pano:
—
Não há para onde ir. De que adianta buscar a felicidade se mesmo com ela
continuaremos vazios? Prefiro me manter vazio nesse cemitério de esperanças. E
só.