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Pseudodiálogo


- Alô, Maria. Sou eu.
- Não estou usando meu celular porque... Bem, porque você não ia atender se te ligasse dele. Estou num Bar que descobri por esses tempos. Achei que talvez, se você atendesse e ouvisse minha voz, aceitaria conversar.
-Olha, Maria, eu sei que eu errei, mas não adianta nada ficar quieta. Quanto maior seu silêncio, mais minhas palavras ecoarão em nossos corações doloridos.
- Escute, eu só queria ressaltar que nada do que eu disse é verdade. Você sabe como eu sou: as palavras tomam conta de mim, abusam da minha ingenuidade locutiva, e vão se agrupando, formando sentenças e se dispersando em ondas sonoras. As coisas que eu digo são movidas pela necessidade de me dizer insatisfeito, mas que o significado lexical delas realmente não importa.
- Eu só queria que você parasse de tentar me mudar, Maria. Eu tenho ciência de minhas rachaduras, mas me deixe colá-las sozinho, no meu tempo. Eu não gosto de ser empurrado. Eu quero caminhar. E quando você...
- Quando você diz essas coisas, principalmente quando eu sei que você tem razão, eu fico machucado, porque são verdades que eu ainda não estou preparado para aceitar. No momento, eu prefiro ignorar as rachaduras, fingir que o amor não vaza quando passa pelo meu corpo.
- Não é que eu não queira a sua preocupação e sua ajuda, é só... Eu estou uma bagunça, Maria, e você precisa entender isso. Sei que às vezes é pedir demais, ainda mais para alguém tão bem resolvido quanto você, mas...
- Sei que minha voz está embargada, mas não estou chorando. Só lavando a alma.
- O que eu estou tentando dizer, Maria, é que, apesar disso tudo, eu preciso de você. Preciso de você ao meu lado, sendo meu ponto de apoio. Preciso que, quando eu estiver pronto, você me ajude a fechar as rachaduras.
- Acho que estou soando egoísta, sei que nossa amizade parece muito unilateral às vezes. Mas me diga o que eu posso fazer por você, Maria, assim como acabei de dizer o que você poderia fazer por mim. Talvez assim nosso relacionamento se torne menos desgastante para você, se as coisas ficarem bem claras. Talvez assim cessem essas inúmeras brigas e vingue a paz.
 - Maria? Você está... rindo?
Então Maria falou,
- Você quer saber o que pode fazer por mim? Então vamos lá.
- Você adora se chamar de Filósofo, não é mesmo? Bom, filosofe sobre isso:
- Vai pra puta que pariu!
A ligação caiu, e com ela as esperanças que eu tinha de minhas falas estarem fazendo algum sentido.

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