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Reflexão Embriagada

     O dono do bar às vezes consume sua própria bebida. Geralmente eu faço isso quando o bar está fechado ou perto de fechar, e sinto que é chegada a hora de encarar meus próprios problemas.
     A bebida ajuda muito nisso. Em desistir de ajudar os outros e pensar em mim mesmo.
     Geralmente eu prefiro me afogar em vodca justamente por ela embriagar mais rapidamente. Ou uísque. Tanto faz. Nunca toco na cerveja. Ela é fraca demais para mim. Ou nas batidas. Eu preciso de algo mais forte para encarar tudo aquilo que a vida me reserva. Eu preciso de algo que me derrube, me destrua, me deixe no chão. Alguma bebida que tenha a potência de uma chifrada de búfalo, mas o sabor da mais doce fruta.
     Ou seja, eu preciso de algo que me deixe maravilhosamente mal. Algo que corroa, que destrua. Eu preciso da pior das bebidas. Só ela pode me deixar bem.
     E sobre o quê eu reflito? Ora, é claro que eu reflito sobre a vida. Minha vida é rodeada de existencialismo, talvez por culpa de meu emprego, e eu perco muito tempo nisso. Muito tempo pensando em como estamos aqui e em como devemos levar essa vida conosco.
     Enquanto eu entorno, bebendo cada resto de garrafa até o fim, eu penso sobre todas as pessoas e, acima de todas elas, sobre mim mesmo. Até porque, por mais que eu passe mais tempo pensando nelas que em mim, eu ainda estou no centro de meu mundo. Sou egoísta. E todo o meu jeito de pensar é concluído dessa forma, em meio a revelações ente garrafas de bebida.
     E qual a conclusão que eu chego em relação a tudo isso?
     Dizem que o acaba com o fígado é a bebida. Para mim, o que fode com ele são as pessoas.
     São elas as principais destrutoras de suas próprias vidas, e talvez por eu absorver uma parte delas, também destrói a minha em um niilismo depressivo, totalmente impossível de ignorar. São as pessoas que levam suas vidas para caminhos tortuosos e geralmente é por sua própria escolha.
     O ser humano foi feito para errar e ir contra isso é ir contra sua própria existência. Acertar é um erro. Errar é um acerto. E devemos aceitar isso.
     Então eu continuo com minha garrafa aqui, bebendo, observando a porta fechada, a jukebox parada, o telefone sem tocar, as mesas vazias. E eu bebo, pensando em todos os casos que vieram ao meu bar hoje, falar de seus erros e acertos, conversar comigo, um psicólogo de rua, melhor, um psicólogo de beco, e talvez tentar algo novo. Eu preciso pensar neles e chegar a alguna conclusão. Como um observador — o melhor deles, diga-se de passagem — eu preciso desse tempo para mim. Para absorver os pensamentos e as histórias que ouvi ao longo do dia.
     E a cada dia que passa, minha crise existencialista e niilista permanece. É como se a humanidade caminhasse em direção ao abismo. E talvez seja isso mesmo que aconteça. Ao abismo da morte. Morte de vida, morte de sentimentos.

     Ao grande abismo da existência. 

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