Um repouso confortável na cama de angústias
Comprei meu estoque de bebidas com o dinheiro roubado da carteira dele. Me sentei no chão confortável — depende do ponto de vista, do Beco Bêbado, alinhei as garrafas por trás das curvas do meu corpo, cobri-as com meu casaco, botei meu cigarro e isqueiro no colo, encontrei a lua no céu e agora posso começar minha noite de solidão.
Não tem som e eu canto, assim como não há mais vida e mesmo assim eu vivo. Só canto para ver se o sono vem antes da segunda garrafa. Me isolei aqui hoje porque virou costume não ser mais do mundo. Aliás, ando me afastando de qualquer multidão que faça eu me sentir só. Estou muito deslocada e apenas as bebidas aguentam penetrar meus problemas. As pessoas me veem assim perdida e fogem, que é para não se perderem também. Aos poucos vou precisando cada vez mais de mim e, nessa necessidade, me embriago para aguentar o peso de tudo o que sinto. Só não sei quando foi que escolhi sentir tanto.
Não tem som e eu canto, assim como não há mais vida e mesmo assim eu vivo. Só canto para ver se o sono vem antes da segunda garrafa. Me isolei aqui hoje porque virou costume não ser mais do mundo. Aliás, ando me afastando de qualquer multidão que faça eu me sentir só. Estou muito deslocada e apenas as bebidas aguentam penetrar meus problemas. As pessoas me veem assim perdida e fogem, que é para não se perderem também. Aos poucos vou precisando cada vez mais de mim e, nessa necessidade, me embriago para aguentar o peso de tudo o que sinto. Só não sei quando foi que escolhi sentir tanto.
Há duas coisas boas sobre estar aqui: 1. O Beco sempre me acolhe; 2. Em toda noite como essa o Beco se torna meu telescópio. Eu estou segura e posso passar horas vendo o que tem lá pra cima, em completo conforto.
Começo a me sentir uma gentinha dessas que não se encontra nos olhos de ninguém, que se sente outra coisa não-explicada do universo reduzido a este planeta egocêntrico. Uma estrelinha que não se mistura com as outras, e fica bem lá no canto fazendo protesto silencioso contra as constelações. E se eu for mesmo essa coisa única sem significado no dicionário ou em qualquer outra compilação de conceitos e definições, quem poderá me encontrar para desmentir? De toda forma, estou a salvo.
Ainda que eu pareça uma carta fora do baralho pisada nos finais do Beco, ainda que eu acredite ser a carta coringa que é tão boa que ninguém encontra nas belezas do Bêbado, sou uma pessoa só nessa existência toda sendo o que é bom para mim. É o que importa ou deveria importar, não é? Me salvar de mim e dos outros faz parte da sobrevivência, mesmo que para isso eu me encha de ilusões, ficções ou realidades boas demais para aquéns.
Abro outra garrafa. É o melhor lugar em que posso estar, com a melhor pessoa com quem posso estar. Eu e o Beco. Eu poderia não sair dele nunca mais.
Começo a me sentir uma gentinha dessas que não se encontra nos olhos de ninguém, que se sente outra coisa não-explicada do universo reduzido a este planeta egocêntrico. Uma estrelinha que não se mistura com as outras, e fica bem lá no canto fazendo protesto silencioso contra as constelações. E se eu for mesmo essa coisa única sem significado no dicionário ou em qualquer outra compilação de conceitos e definições, quem poderá me encontrar para desmentir? De toda forma, estou a salvo.
Ainda que eu pareça uma carta fora do baralho pisada nos finais do Beco, ainda que eu acredite ser a carta coringa que é tão boa que ninguém encontra nas belezas do Bêbado, sou uma pessoa só nessa existência toda sendo o que é bom para mim. É o que importa ou deveria importar, não é? Me salvar de mim e dos outros faz parte da sobrevivência, mesmo que para isso eu me encha de ilusões, ficções ou realidades boas demais para aquéns.
Abro outra garrafa. É o melhor lugar em que posso estar, com a melhor pessoa com quem posso estar. Eu e o Beco. Eu poderia não sair dele nunca mais.