Destilando Sabores
Corto rapidamente o limão, preparo o sal e encho o copo de dose com tequila. Entrego ao freguês que toma praticando aquele ritual quase que sagrada. Sal, tequila, limão. É quase sacrilégio não obedecer a ordem.
— A tequila é a minha bebida favorita para
esses momentos. — É o que o freguês me diz, e pede outra.
— E que momentos são esses?
— Momentos para fazer festa. A tequila é
uma bebida sempre sorridente.
— Essa é uma clara personalidade dela. —
Digo. — Ela te deixa feliz rapidamente e seu ritual é ótimo para fazer com duas
ou mais pessoas. É uma bebida coletiva, acima de tudo.
— Sim. É diferente do conhaque, por
exemplo. Bebida depressiva. Quando você quer se afundar, o conhaque é a melhor
pedida.
— Isso porque ele esquenta. O conhaque
esquenta almas frias. Almas em desespero.
— Quase como a vodca.
— Eu vejo a vodca um pouco diferente. Ela
foi feita para embriagá-lo sem importar o motivo. Se você está feliz, ou
triste, ou com raiva, a vodca é a solução. E seu gosto unicamente forte é o que
lhe questiona se você está preparado para ela ou não, quase como um teste
pessoal.
— Uma bela defesa da vodca, essa sua, mas
se quero me embriagar, eu prefiro a tequila. Tão forte quanto e ainda mais
saborosa. Sabor de alegria.
— Assim como o rum, que misturada se
tansforma em cuba libre.
— Aí sim você está falando a minha língua.
O cuba libre é uma versão aprimorada
da tequila. Um coquetel de felicidade e ousadia batidos com gelo. O que me faz
pensar no fato de as mais quentes bebidas, e falo no sentido de sentimentalismo
mesmo, são as com nomes latino-americanos. Seria esse um povo mais feliz?
— Eles produzem uma ótima aguardente. Falo
do povo da América Central, no geral. Bebidas bem fortes. E sabe por que eles
devem ser mais felizes?
— Por quê?
— Por quê?
— É impossível ser infeliz embriagado.